Não precisa ser um gênio, mas tem que ser resiliente.
Hoje eu quero contar algo curioso que me aconteceu na primeira vez que tentei construir conteúdo. Afinal de contas, tal fato, foi decisivo para a minha falha como criador de histórias naquela época. Como citado no episódio anterior, minhas habilidades para com a leitura, evoluíram drasticamente em pouco tempo... Graças ao estimulo (revistas de anime) que recebi. Infelizmente, o meu avanço na capacidade de ler foi interpretado como algo próximo das altas habilidades de criança “Prodígio”... Sim, caros leitores... José Junior já foi considerado como um garoto prodígio (Quase cai uma lágrima aqui). O capítulo de hoje trata daquele momento de “genialidade” na minha vida, de como esse acontecimento ajudou ou interferiu na minha pioneira tentativa de construção de conteúdo.
Lembro de um belo dia aula, leitura compartilhada de um texto. Um trecho daquela história foi lida por mim, tom alto e seguro. E pra finalizar, respostas corretas na interpretação de texto. Nos dias de hoje, com certeza não passaria de ações de um aluno normal... Mas no inicio da década de noventa, na era das cartilhas “ABC” e decoreba de sílabas que mal faziam sentido para as crianças, um aluno letrado na segunda série (Terceiro ano do fundamental nos dias de hoje) de uma classe de ensino público chamava muito a atenção. Logo, começou os elogios, era o aluno modelo da sala de aula. E quando surgiu o convite para o teste de habilidades e competências para avançar de ano, aconteceu que eu fechei a prova... A professora toda orgulhosa passou a noticia para a classe e depois para a minha família... O meu ego estava no espaço.
“... O aluno José Junior tem habilidades acima dos alunos da idade dele, ele tem que avançar de ano para continuar o seu desenvolvimento...”
No segundo semestre daquele ano estava numa turma mais avançada. Meu ego foi definhando a medida que enfrentava as provas de matemática. Imagine só, eu tinha habilidade para todas as matérias do terceiro ano, graças ao meu letramento incentivado pelo gosto dos quadrinhos, exceto matemática (pular um ano de uma disciplina como matemática foi um erro). Resumindo: as revistas que meu irmão trouxe impulsionaram minhas habilidades relacionadas à leitura, os professores me viram como prodígio e fui encaminhado do segundo para o terceiro ano... Mas, como não recebi o conteúdo de matemática do final do segundo ano e muito menos o conteúdo do inicio do terceiro ano, ficou impossível de eu acompanhar o restante da turma no final terceiro ano. Então fui reprovado, o garoto José Junior já não era tão prodígio assim... Em seis meses fui de gênio ao fracasso... Os elogios viraram duras críticas.
“... Eu sabia que a escola tava fazendo besteira passando esse menino de ano...”
Pra piorar, naquele ano tinha começado a construir meus quadrinhos nas folhas de caderno... E quando meus pais viram as dezenas de folhas rabiscadas no caderno, associaram que eu ficava desenhando nas aulas de matemática. O material foi rasgado na minha frente, e acabei convencido de que todo aquele equívoco pedagógico foi “somente” culpa minha.
Confesso que tudo isso ficou marcado na minha memória, mas graças aos avanços nos estudos pedagógicos, esse erro, que acontecia com bem mais frequência que se pode imaginar, hoje é algo raro de ver. Imagino agora a quantidade de crianças que compartilharam do mesmo equívoco. Será que todos passaram por essa experiência e conseguiram manter a estima? Quantos conseguiram dá a volta por cima? Quantos não conseguiram?
Literalmente eu cresci no século passado. Não tenho mágoas dos professores que me adiantaram naquele ano, também não tenho nenhum sentimento em relação à professora que me reprovou. Em relação aos meus pais, infelizmente, eles não tinham a mentalidade voltada para a importância da educação. Éramos a típica família humilde que precisava ter um trabalho pra sustentar a família e ponto. Eu entendo que devolver o aluno para o ano anterior (logo depois da progressão de ano) seria um atestado de incompetência assinado por toda a comunidade escolar. No entanto, o que custava umas aulas de reforço no contra turno ou no final de semana, talvez continuar como ouvinte nas aulas de matemática do ano anterior, um pouco mais de compreensão da professora que me reprovou, em fim, não eram poucas as alternativas para pelo menos tentar salvar aquele ano. Eram poucas as pessoas com conhecimento do que estava acontecendo e com empatia e disposição para ajudar. Logicamente parei com a produção de conteúdo por um bom tempo. Penso que não era o momento... A luz do escritor dentro de mim apagou naquele final de ano... E por muito tempo, a escuridão permaneceu ali.
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O texto de hoje fica como reflexão para suas futuras crises (sim, vai acontecer) na construção de conteúdo. Vai ter semanas que você vai produzir muito, outros dias você vai ficar sem idéias, travar e querer apagar o que já fez, e pior, vai querer desistir... Mas é preciso entender que o fracasso não acontece quando você erra ou mesmo quando você cai. O fracasso acontece quando você desiste. A vida de escritor é repleta de momentos difíceis assim como a de todas as outras profissões. Entrar com coragem e determinação pra levantar sempre que cair é o diferencial para o sucesso. Continue tentando. Esse é o meu recado de hoje para vocês e para o José Junior do passado, presente e futuro. Não é necessário ser um gênio, mas é preciso ser resiliente.
Teve experiência parecida... Deixa nos comentários.✌
Fala Jr, Henrique Ozzy aqui, de certo, compartilho muitas de suas experiências, perspectivas, desalentos e surtos (sustos?) de empolgação, de momentos de virada! Parabéns por sua jornada até aqui!
ResponderExcluirGrande Henrique... Obrigado pelas palavras, fortaleceu demais a nossa caminhada.
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